Jogadores de Ceará e Fortaleza se unem e doam cestas básicas para atletas sem clube
O momento requer distância, mas a união também prevalece como forma de enfrentar o novo coronavírus. O paradoxo reside nos que estão sem condição financeira para manter a quarentena com a paralisação das atividades. E o futebol se inclui nos afetados, com calendário suspenso por tempo indeterminado. O confronto então é contra a Covid-19 e não tem Clássico-Rei nesse torneio: juntos, jogadores de Ceará e Fortaleza irão doar cestas básicas para ajudar profissionais sem clube e ex-atletas.
A iniciativa foi idealizada pelo Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Ceará (Safece). Na lista, nomes como Ricardinho, Marcelo Boeck, Luiz Otávio, Osvaldo, Samuel Xavier e tantos outros ídolos alvinegros e tricolores reunidos pela empatia. O processo atenderá 150 famílias distribuídas entre: Capital (60), Crato (30), Sobral (30) e Juazeiro/Barbalha (30).
Presidente da instituição, Marcos Gaúcho reforçou que o sentimento de solidariedade deve prevalecer. “Todo mês a Safece ajuda atletas em situação de vulnerabilidade com cestas básicas, mas com o novo coronavírus, muitos (jogadores) foram afetados. Então convidamos os jogadores de Ceará e Fortaleza para ajudar, caso quisessem, com o que pudessem. O retorno foi fantástico, todos estão ajudando. Vamos conseguir ampliar até para além da Capital”, explicou.
No processo, os jogadores entraram em contato com uma única fornecedora de alimentos e cada um compra o momento que achar possível. As encomendas serão finalizadas na segunda-feira (30). A Safece vai receber e distribuir os mantimentos na própria sede aos beneficiários da Capital – com um esquema de segurança que evite aglomerações.
No interior, os ex-atacantes Vanderley e Jean, além do ex-volante Jonas serão os responsáveis pela entrega. Marcos Gaúcho também relembrou que os elencos de Vovô e Leão contribuíram com a saúde financeira dos respectivos clubes. “Os jogadores de Ceará e Fortaleza até aceitaram diminuir os salários para evitar que alguém fosse demitido do time. Isso é muito bom, mostra que estão na vanguarda do movimento. No Fortaleza, o acordo foi selado. No Ceará, será em breve”, pontuou.
Sem partidas para disputar, os atletas estão de férias. Cada um mantém a rotina de treinos em casa e segue uma cartilha específica de atividades, além de cuidados com a alimentação, para evitar a perda de condicionamento físico.
CORRENTE SOLIDÁRIA
A campanha de doação de cestas básicas é apenas uma das frentes de atuação da Safece. Fundado em 2005, o sindicato trabalha em prol dos direitos dos atletas e também na inserção deles no mercado de trabalho.
Dentre os principais projetos está o plano de capacitação do profissional. “A transição do atleta quando ele para de jogar tem se transformado em um problema social e o sindicato entrou no jogo para mudar essa dura realidade”, ressaltou Marcos Gaúcho.
Assim, são organizados palestras com peças importantes do futebol nacional – a exemplo de Zico (ídolo do Flamengo como atleta e agora comentarista) e Raí (ex-jogador e atual diretor do São Paulo) para traçar diretrizes de carreira e segmentos de atuação. Em 2020, a expectativa é que o evento alcance a 3ª edição.
E a escala de assistência também recai sobre os iniciantes. A Safece atende de forma mensal mais de 1.000 crianças em trabalho de categorias de base com bolas, coletes e ex-jogadores do futebol cearense trabalhando como monitores. Aos que estão desempregados e querem seguir no futebol, o sindicato funciona como uma rede que os conduz os times, além de fornecer material para a continuidade dos treinos.
A corrente ainda se estende ao futebol feminino, com amparo para mulheres que sonham em atuar no futebol profissional. Há visitas periódicas nos times para acompanhar os atletas. No aspecto sindical, a Safece dialoga com a Federação Cearense de Futebol (FCF) e o Ministério Público Federal em prol de melhorias no esporte e respeito aos direitos dos profissionais.